sábado, 6 de agosto de 2016

O Natal da minha infância

O Natal da minha infância


Tenho saudades
do Natal do meu tempo de criança,
do cheiro a musgo,
da neve regelada
e sobretudo do Menino Jesus,
em que eu acreditava!
Não havia Pai Natal,
nem brinquedos luxuosos,
não havia luzes a brilhar,
mas havia a lareira a crepitar
e fritos deliciosos!
Eu, até fui afortunada,
pois recebi sempre uma boneca,
que me deixava encantada...
Mas, nesse tempo, 
para alguns, o Deus Menino era pobrezinho
e deixava apenas uns tostões e uma laranja no seu sapatinho!
Mas a magia de acreditar,
que vinham do céu e tudo era verdade,
dava àqueles meninos,
a maior felicidade!

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

À minha aldeia (Vale de Espinho)

À minha aldeia (Vale de Espinho)


Minha velha aldeia, como estás diferente!
As tuas casinhas, outrora de pedra escura,
São hoje quase palácios de cores berrantes,
que alegram os olhos dos teus visitantes
e são o orgulho dos teus emigrantes!
Minha velha aldeia, como estás diferente!
Pelas tuas calçadas, quelhinhas, vielas,
passa pouca gente
e ecoam saudades dos que já partiram
e tantas, tantas vezes palmilharam nelas!...
Minha velha aldeia, como estás diferente!
Conservas ainda o teu lindo Coa, tua boa gente
e o teu campanário,
com o mesmo sino a repicar contente,
em dias de festa
e com som dolente de arrepiar,
quando alguém, para sempre
nos vai deixar!
Minha velha aldeia, como estás diferente!
Mais vistosa, mais enriquecida,
mas deixa-me lembrar-te ainda
como antigamente!

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O professor é um escultor

O professor é um escultor


Já pensaste, professor,
que, se quiseres,
podes ser o mais exímio escultor?
Podes modelar,
podes esculpir,
modificar,
aperfeiçoar,
apenas com o teu saber,
o teu querer,
e aquela forma de amar!
Oxalá, ao olhares com orgulho
a tua obra,
possas dizer:
-obrigada, Senhor,
por me teres dado a oportunidade
e a vontade ,
para que eu pudesse ser 
aquele escultor,
a quem todos chamam professor!


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Retorno à minha aldeia

Retorno à minha aldeia


Quando te visitei,
banhava-te ainda o sol morno de outono,
que tornava mais alegres as tuas casas,
outrora negras e agora coloridas,
onde nasceram e viveram,
tantas, tantas vidas!...
Percorri todas as calçadas
e elas sorriram para mim,
e, por voltar a pisá-las,
todas mostraram sentir
uma alegria sem fim...
Ali, era o forno do Rossio,
mais além, o do Senhor,
donde saía o centeio quente,
que era o sustento da tua boa gente!...
Vi casas lindas, de côr,
na Barreira, dantes pobrezinha,
e que alegria Deus meu,
quando olhei e vi a mesma "Fontaínha"!
A escola, onde o primeiro exame fiz, 
já não existe,
mas sai ainda fresquinha a água que eu bebia,
no vetusto chafariz!...
Transportou-me à minha infância,
o toque das Trindades, que alegre recordei!
E logo ali recolhida e deveras comovida,
a Avé Maria rezei...
Para a minha terra também eu sorri
e abracei-a com ternura
e, nesse abraço,
vai a minha gratidão,
por me ter dado a alegria de tanta recordação!!
É esse Vale de Espinho, 
onde estão os que me amaram,
a minha infância e a minha mocidade,
que recordo com amor e a mais profunda saudade!...
 

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Galinha de campo, não quer capoeira

Galinha de campo, não quer capoeira


Vou todos os dias,
ao solar do parque, muito cedo,
com um cheirinho a madrugada
e a relva verde orvalhada,
e sorvo aquele ar puro das árvores,
qual elixir,
que alivia qualquer alma sofrida ou magoada!
A sinfonia dos melros e rouxinóis,
transmite-me aquela paz,
que todos desejamos
e julgo que só no céu
a encontramos!
Obrigada, solar do parque,
que me deixas ouvir a voz do silêncio,
ler com sofreguidão
e não sentir a solidão.
Como nasci e cresci,
numa casa rodeada de árvores,
flores e muita verdura,
lá na minha Beira,
eis a razão,
porque galinha de campo não quer capoeira!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O meu primeiro dia de escola

O meu primeiro dia de escola


Levava na mão a sacola,
feita de tecido, caseira, 
onde ía já o percurso,
da minha vida inteira!
Era o livrinho do aeiou,
a lousa de ardósia,
e a pena de pedra,
com que eu rabiscava
e com saliva apagava...
Não havia magalhães,
nem pontas de feltro para pintar,
mas havia meia dúzia de lápis de cor,
qual jóia preciosa,
que eu estimava e quase amava!
Na minha memória, 
ecoa ainda,
aquela música de embalar,
quando, num banco corrido,
a tabuada procurávamos decorar!
Não queria voltar atrás
nem quadros digitais,
mas queria abraçar os companheiros,
que viveram comigo,
esses tempos quase irreais!


A vida é um teatro

A vida é um teatro


Neste palco da vida
todos somos artistas,
ora em dramas,
ora em comédias,
ou até malabaristas!
Somos palhaços,
a desfazer-se
em tonitruantres gargalhadas,
escondendo tanta vez almas magoadas...
Somos ilusionistas,
que transformam tanto espinho
em rosas perfumadas...
Mágicos, que retiram da cartola
os sonhos que alimentamos e realizamos!
Equilibristas no arame da vida
e mesmo a bambolear
e tanta vez caindo
conseguimos levantar...
Neste palco da vida,
com cenários variados,
ora coloridos,
ora de negro manchados,
todos gostamos de representar, até o pano cair e, com tristeza,
deixarmos as palmas de ouvir!...