Agarrar o tempo

Agarrar o tempo

Corro por todo o lado,

como se o mundo

fosse acabar...

Não sei se é da idade,

se é loucura,

só sei, que não

consigo parar...

Ora borro uma tela,

logo a seguir

agarro-me à panela

e, de repente,

surge na mente

um pensamento,

um qualquer tema

e nasce um poema!

Tudo isto é magia,

que, com alegria,

consegue matar,

da velhice,

toda a nostalgia!...

A vida num instante

A vida num instante

A vida corre,

impunemente,

sem ter pena de nós,

que queremos viver

eternamente...

Apesar dos tropeços,

das barreiras,

que temos de vencer,

das ingratidões,

que não podemos

esquecer,

gostamos tanto

de viver...

Apetece-me pedir

ao Criador,

que julgamos

tudo conseguir,

que nos deixe

beijar os que amamos,

por mais tempo,

porque é ainda cedo

para partir!...

Sou apenas eu

Sou apenas eu

Perguntam-me

o que eu escrevo

e eu respondo:

escrevo-me a mim,

escrevo o que sinto

e os lugares

onde sinto

e onde vou!

E o que sinto,

é o que eu existo

e o que sou...

Escrevo-me

nas palavras mais horríveis:

mentira, ingratidão,

guerra, injustiça,

inveja

e escrevo-me 

nas palavras mais belas:

amor, amizade,

gratidão, saudade 
e céu!

Transformo-me

em palavras,

mas sou apenas eu!...

O sol de outono

O sol de outono

Que bem me sabe

este sol de outono,

depois de uma chuva

desejada,

que veio acariciar

a natureza, sequiosa

e a deixou consolada

e formosa!...

Brilham na relva

as gotas de água,

que ficaram

e que o sol transforma

em cristais...

E o seu brilho,

irradiando alegria,

penetra em nós

e melhora tanto

os nossos astrais!...

O final de setembro que me entristecia

O final de setembro que me entristecia

Ai como eu recordo,

o final de setembro,

a chegada do outono,

na minha aldeia!

Abriam as "despedidas de verão"

e aquelas florinhas roxas,

embora lindas,

entristeciam o nosso coração

e, por vezes, faziam chorar,

porque as férias iam acabar!

Eram as maçarocas de milho,

estendidas em mantas de trapos,

nas eiras a secar,

sinal que as aulas,

estavam a chegar!

O cheiro a mosto,

que perfumava toda a casa,

também nos entristecia,

era prenúncio do fim da alegria,

tínhamos que deixar a nossa casa,

a chorar,

porque para o liceu,

tínhamos que voltar!...

A minha casa, no outono

A minha casa, no outono

Ai como fica linda,

no outono,

a casa onde nasci e cresci!

Vestia-se de gala,

com um vestido,

estampado,

com cores garridas,

amarelos, vermelhos,

verdes, acastanhados,

e uns cachinhos roxos

a enfeitá-lo!

É a vinha selvagem, 

a cobrir todos os muros!

Fica toda vaidosa

e tão bela,

que as pessoas,

ao passar,

ficam encantadas,

a olhar para ela!...

Chegou o outono

Chegou o outono

Acabas de chegar,

outono!

Trazes contigo,

a tua bagagem, 

carregada de frutos

maravilhosos

e saborosos!

Vestes-te de cores vistosas,

alaranjados, verdes,

amarelos e vermelhos,

e as outras estações,

de certeza,

ficam invejosas...

Dizem que és triste,

que grande heresia!

A tua paz,

a tua serenidade,

mostra-nos bem,

que não é verdade!

E essa calma,

que tu nos trazes,

convida-nos a meditar,

a orar

e, tanta vez,

a poetar!...